terça-feira, 26 de julho de 2011

Crônicas de ônibus

          Eu voltava pra casa pensando que eu deveria crescer, procurar outros caminhos, deixar o medo de lado, me tornar mais independente. Quando pensava em como fazer isso, uma menina de mais ou menos cinco anos entra acompanhada de sua mãe. Ela estava com o braço engessado. Tinha carinha de sapeca e sorria pra quem olhasse. Sentou-se no colo da mãe.

E logo um senhor sentou-se ao seu lado. Perguntou a menina como conseguiu aquele gesso. Ela desatenta, não respondeu. Coube a mãe disser o que tinha acontecido. A menina havia caído. O senhor então, disse que ela tinha mesmo carinha de danada.

                Começou a contar de sua filha, Isabele, que foi adotada. Com a possibilidade de ouvir uma boa historia, a menina esqueceu tudo que passava lá fora e atentou-se para o rosto do homem. Ele contou que quando sua filha ainda era pequena a mãe contou à menina que ela tinha vindo de outra família e junto com ela tinha vindo uma carta que dizia: “Isabele é um tesouro, cuidem bem dela.” A menina cruzou os braços e exclamou: Não sou um tesouro! A mãe foi explicar a garotinha o que era um tesouro, até que ela aceitasse que tesouro era uma coisa boa.

                - Como é seu nome? - Perguntou o senhor a menina que o olhava atentamente. Criança adora histórias, principalmente se contadas por senhores com cara de vovô.

                - Nayara.

                A conversa parecia ter parado ali, mas com a mesma simpatia de sempre, o senhor começou a falar do tempo. Disse que iria passar o dia chovendo. A mulher disse que estava agradável o dia. A menina olhava atentamente para o mundo fora da janela do ônibus. A cidade está em obras, passando por muitas mudanças. Os grandes olhos da menina se enchiam cada vez que passava por aquelas máquinas enormes e fortes. Parecia tudo tão incrível, como só as crianças conseguem achar.

                Era o tempo nublado, o ônibus lotado, engarrafamento por toda parte, quase 6h da tarde e mesmo assim ela sorria e achava tudo encantador. E eu só queria que tudo que tinha ido fazer tivesse dado certo, que os caminhos mudassem pra que eu pudesse, de novo, achar tudo incrível e não me importar com o tempo.

                - Com licença, vou descer na próxima.



- Jessica

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Falta muito pra acabar?

- Mãe, falta quanto tempo para o ano acabar?
- Uns 7 meses. Seis meses e meio, filha. Por quê?
- Então daqui a seis meses e meio vou ficar de férias da escola?
- Antes disso, filha.
- Ah, só faltam seis meses e meio.
 E ainda com aquela cara de boba por SÓ faltar seis meses e meio a menina ficou olhando para fora da janela do ônibus. Imagino que estava pensando que seis meses demoram muito, quase uma eternidade.
Semana passada também estava pensando nisso quando voltava para casa. Era sexta-feira, quase 8 horas da noite e eu agradecia a Deus por estar chegando em casa quando vi alguns meninos brincando na rua de futebol e meninas sentadas conversando e rindo. Aquelas panelinhas que existem quando somos crianças. Eu lembrava que chegar no fim de semana era difícil, que ficávamos dias sem ter o que fazer, que o tempo sobrava pra tudo. eu adorava a sexta porque era um dia que eu tinha certeza de que meus pais iam sentar na calçada e eu ia poder ficar lá olhando as outras crianças brincarem. Nunca gostei de participar, sempre gostei de observar, mas tinha dias que faltava alguém no time de carimba e eu ia jogar um pouco.
Hoje, a semana passa rapidamente, os anos então nem se fala. E olha só, eu mesma já tenho vinte anos. Dez anos mais cedo, eu sentava na calçada pra ver o tempo passar, me imaginava dali dez anos. Lembro bem que queria já estar morando sozinha, formada (sem noção dos anos que levava pra se formar na faculdade), rica e independente.
Criança imagina cada coisa doida. Esses sonhos eu ainda tenho, mas mudaram os prazos. Formada só daqui dois anos. Morando sozinha só daqui 9 ou 10 anos e rica daqui uns 15 anos, quem sabe.
Bons tempos em que a única preocupação da semana era a de torcer pros meus pais sentarem na calçada depois do jantar. Hoje as semanas ainda passam rápido, mas a preocupação maior é que a sexta chegue logo pra eu poder dormir mais ou simplesmente pra ficar em casa e fazer tudo aquilo que não deu tempo de fazer durante a semana.
Ainda sento na calçada e me imagino daqui dez anos. Quando esse tempo passar, talvez eu volte pra contar como tudo está. Como o mundo mudou, como meus sonhos se modificaram, quantas vezes eu errei, quantas vezes eu acertei. O que mais eu quero.





- Jessica

domingo, 17 de julho de 2011

Passado tão presente.

Depois de 2 anos você resolveu voltar, pra deixar meu coração todo perturbado, todo confuso, todo medroso, todo alegre, todo cheio de amor e paz. Eu sei que esse teu jeito me faz bem, me deixa tão feliz por viver, mas eu não sei se tudo isso é certo, se tudo isso que agente faz é certo, eu sei que, eu não gosto muito de coisas certas, gosto mesmo é de aventura, mas desse jeito que tá eu não aceito.
Você sempre esteve tão presente nos meus dias, mesmo eu não sabendo. Sempre estava ali vendo o que eu fazia, o que eu pensava e sofria por não estar comigo, e eu também, de uma forma ou de outra via e sofria. E os nossos planos? Ah, os nossos planos...tão perfeitos, tão...enfim. Eu só não queria que essa estória ficasse tão confusa pra mim, eu só queria que esse passado ficasse mais presente, ou virasse realmente um passado.


Música do dia: Marcelo Camelo - Janta "Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá."



quinta-feira, 14 de julho de 2011

Vende-se preguiça

- Com licença, moço, me chamo Rafa e gostaria de fazer um depósito de preguiça.
- Rafa, não fazemos esse tipo de depósito.
- Mas aqui não é um banco?
- É sim, mas só depositamos dinheiro.
- E onde eu posso trocar preguiça por dinheiro?
- Creio que em canto nenhum, querida.
- Como assim, moço? Tá querendo me dizer que eu vou ter que ficar com essa preguiça pra sempre?
- Se você fizer exercícios físicos talvez ela vá embora.
- Tá me chamando de gorda?
- Não, querida. É que exercício faz bem pra saúde e aumenta a disposição. Você pode praticar um esporte. É divertido na sua idade.
- Ah, mas eu tenho muita preguiça pra começar a fazer exercício físico e mesmo não tenho dinheiro pra praticar esportes. Se eu pudesse vender, sabe? Eu até que iria, mas você disse que não dá. Você tem certeza de que não há um banco que aceite depósito de preguiça?
- Tenho sim. Não há um banco no mundo que aceite.
- Ok, obrigada.
 Saiu de lá pensando que aquele homem só poderia estar louco. Sua mãe lhe disse que tinha preguiça pra dar e vender. Como ele não poderia ter aceitado sua preguiça? Tentou em outros bancos, mas a resposta era sempre a mesma.
Voltou pra casa triste e com a sensação de que levava mais do que seu peso. Peso demais pra doce menina de sete anos. Chegou e entrou com os ombros caídos, cabeça baixa e uma tristeza que parecia ser profunda. Afundou no sofá e cruzou os braços. Estava transtornada por não poder trocar preguiça por dinheiro. Pensou que os adultos eram uns bobos e que não valorizavam o que tinham dentro de si. Afinal, pensava ela, pra quê servia tanta preguiça se ela não poderia vender? Antes de começar a fazer beiço para chorar, viu sua mãe e foi logo contando:
- Mamãe, fui ao banco hoje.
- Você foi ao banco com quem, minha filha? O que você foi fazer lá, querida?
- Sozinha. Queria vender minha preguiça. Você disse que eu tinha preguiça para dar e vender. Fui tentar vender, mas o moço não quis comprar.
 A mãe sorriu e chamou a menina pra sentar. A garotinha não gostou nada do sorriso que a mãe deu. Sentiu-se enganada, mas foi conversar com a mãe. A mulher, já com seus primeiros cabelos brancos, explicou pacientemente a menina que o que ela falou era apenas uma expressão enquanto passava carinhosamente a mão em seus cabelos lisos. Tudo aquilo não tinha exatamente aquele sentido. Ela apenas quis dizer que a menina era bem preguiçosa, tanto que se pudesse, daria e venderia sua preguiça.
Ainda chateada a menina conformou-se com a resposta da mãe. Foi para o quarto. Pegou seu caderninho de segredos e lições. Fez mais uma anotação: “Lembrar que quando for adulta, dizer as coisas exatamente como devem ser ditas, sem ‘expressões’.”


- Jessica

Passageiro.

Tem coisas na vida que são tão passageiras, que a gente acaba  se acostumando e nem ligando pro tal fato. Não que sejam passageiras de fato, é que quando algo entra na rotina da vida, acaba caindo no esquecimento. Já dizia o escritor Caio Fernando Abreu "quem não é visto não é lembrado". Quando passamos vários dias, meses ou até mesmo anos sem ver tal pessoa, acabamos esquecendo, não porque nós queremos esquecer, mas é que as lembranças vão sumindo. Antes eu era diferente, eu corria atrás de todo mundo, quando as pessoas meio que iam embora da minha vida, eu ia sempre atrás delas, procurava sempre agradar, mas hoje em dia meio que tudo mudou. Não que eu abra mão dos meus amigos, mas tem horas na vida que você tem que desistir de algumas pessoas, pra ver se elas são realmente nossos amigos. E eu comecei a desistir, fui desistindo compulsivamente, até que chegou no momento que eu vi quem era meus amigos realmente, não chegou a doer muito, mas doeu um pouco...Foi a partir daí que eu vi que eu tinha que botar tudo no lugar, separar minhas amizades, como se separa as maquiagens, tudo no seu devido lugar, no seu devido cargo, ou eu ia começar a sofrer muito, e isso hoje em dia estou evitando. Enfim, fui separando minhas amizades, desistir de vez de algumas pessoas, e francamente hoje, elas não me fazem nem uma falta, claro que, eu lembro de algumas pessoas, pois lembranças não se apagam facilmente, e eu fiz questão de guardar só as coisas boas, o meu jeito doce não permite eu guardar as coisas ruins, mas é tudo passageiro, a vida é feita de coisas momentâneas. Amigos vem e vão (alguns, é claro). O pouco de amigos que tenho hoje, já me faz feliz extremamente, e esses que me restaram, faço questão de regar todos os dias.


- Vanessa