- Rafa, não fazemos esse tipo de depósito.
- Mas aqui não é um banco?
- É sim, mas só depositamos dinheiro.
- E onde eu posso trocar preguiça por dinheiro?
- Creio que em canto nenhum, querida.
- Como assim, moço? Tá querendo me dizer que eu vou ter que ficar com essa preguiça pra sempre?
- Se você fizer exercícios físicos talvez ela vá embora.
- Tá me chamando de gorda?
- Não, querida. É que exercício faz bem pra saúde e aumenta a disposição. Você pode praticar um esporte. É divertido na sua idade.
- Ah, mas eu tenho muita preguiça pra começar a fazer exercício físico e mesmo não tenho dinheiro pra praticar esportes. Se eu pudesse vender, sabe? Eu até que iria, mas você disse que não dá. Você tem certeza de que não há um banco que aceite depósito de preguiça?
- Tenho sim. Não há um banco no mundo que aceite.
- Ok, obrigada.
Saiu de lá pensando que aquele homem só poderia estar louco. Sua mãe lhe disse que tinha preguiça pra dar e vender. Como ele não poderia ter aceitado sua preguiça? Tentou em outros bancos, mas a resposta era sempre a mesma.
Voltou pra casa triste e com a sensação de que levava mais do que seu peso. Peso demais pra doce menina de sete anos. Chegou e entrou com os ombros caídos, cabeça baixa e uma tristeza que parecia ser profunda. Afundou no sofá e cruzou os braços. Estava transtornada por não poder trocar preguiça por dinheiro. Pensou que os adultos eram uns bobos e que não valorizavam o que tinham dentro de si. Afinal, pensava ela, pra quê servia tanta preguiça se ela não poderia vender? Antes de começar a fazer beiço para chorar, viu sua mãe e foi logo contando:
- Mamãe, fui ao banco hoje.
- Você foi ao banco com quem, minha filha? O que você foi fazer lá, querida?
- Sozinha. Queria vender minha preguiça. Você disse que eu tinha preguiça para dar e vender. Fui tentar vender, mas o moço não quis comprar.
A mãe sorriu e chamou a menina pra sentar. A garotinha não gostou nada do sorriso que a mãe deu. Sentiu-se enganada, mas foi conversar com a mãe. A mulher, já com seus primeiros cabelos brancos, explicou pacientemente a menina que o que ela falou era apenas uma expressão enquanto passava carinhosamente a mão em seus cabelos lisos. Tudo aquilo não tinha exatamente aquele sentido. Ela apenas quis dizer que a menina era bem preguiçosa, tanto que se pudesse, daria e venderia sua preguiça.
Ainda chateada a menina conformou-se com a resposta da mãe. Foi para o quarto. Pegou seu caderninho de segredos e lições. Fez mais uma anotação: “Lembrar que quando for adulta, dizer as coisas exatamente como devem ser ditas, sem ‘expressões’.”
- Jessica
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