segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Como está o seu joelho, Miguel?

Andava pela rua, voltando pra casa, quando avistei uma mãe com seu filho, um garotinho de uns 3 anos. Ele vinha na frente e ela logo atrás observando atentamente onde seu filho pisava. Às vezes, ela dizia: “Toma cuidado, Miguel.” “Olha o batente, Miguel.” Ele não se importava, continuava a caminhada dele como se nada o pudesse fazer parar.
Ele me viu e continuou caminhando, mas não parava de me olhar. Não viu o batente a tempo e acabou caindo. Ele não chorou, mas eu senti que queria. Levantou-se, limpou as mãos, engoliu o choro e sorriu. E eu não esperava por isso. Era um sorriso que me dizia: “Fique bem, eu também vou ficar.” A única reação que tive foi de responder ao seu sorriso com outro sorriso. E o meu sorriso dizia: “Eu sinto muito”. Ele poderia ter chorado, chamado sua mãe (que por sinal não correu pra acudi-lo, deixou que ele se levantasse sozinho), mas ele preferiu levantar-se e continuar andando e sozinho.
Passei o dia pensando no Miguel. Se pudesse o diria que joelhos ralados curam logo e no dia seguinte ele não sentiria mais dor e quando estivesse do meu tamanho, nem lembraria como aquela cicatriz surgiu. Eu também não me lembro do aconteceu pra eu ganhar tantas cicatrizes no joelho. Mas de todas as cicatrizes do meu coração eu lembro. Teve uma, Miguel, que demorou 5 anos para sarar. Eu pensei que ficaria assim pra sempre, que nunca mais ia ver meu coração consertado de novo, mas você me ajudou, Miguel. Você me disse que eu podia ficar bem se quisesse. Me ensinou a levantar, limpar as mãos e continuar o meu caminho e sorrindo. Eu ficarei bem também. Como está seu joelho? Não doí mais não é? Meu coração também não.

Jessica

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